domingo, 5 de abril de 2009

Coluna - 05.04.2009

A gente sai da terra, mas a terra nunca sai da gente!
Desde sempre ouço esta frase e hoje, depois de não estar em lugar nenhum por mais de 15 dias há 35 anos, sinto-me capaz de fazer uma pequena correção (ai, que pretensão!!!)

Saí de casa aos 17 anos, digo, da casa de meus pais, para ganhar a vida, ter uma profissão.

Nunca pensei no casamento como 'solução' ou meta de vida. Desde criança sonhava ter uma profissão que me desse independência financeira e alguma liberdade. Eu queria conhecer o mundo, conhecer pessoas e meu sonho era ser psicóloga.

Nunca imaginei que minha terapia seria a busca, através da música, do entendimento da minha alma e, consequentemente, da identificação destes sentimentos compartilhados com milhares de pessoas pelo mundo que buscam na música 'exorcizar' seus demônios, entender suas paixões. Compreender e demonstrar suas emoções CANTANDO-AS!!!

Nunca pensei em chegar tão longe e, ao chegar a cada lugar, reconhecer minha casa. Hoje posso dizer que a casa, a terra da gente não nos abandona porque somos o resultado de nossas lembranças, nossos cheiros e sabores... E por falar nisto, há terra mais saborosa e cheirosa do que a nossa? O NOSSO PARÁ?

Então vamos lá, afinal isto é uma coluna de viagens e eu comecei por 'viajar mesmo'! Rárárárárárárárárárárárá......................

Há 23 anos trabalho entre Portugal e Brasil. A primeira viagem foi precedida de muita expectativa, muita ansiedade, afinal, minha família é portuguesa de quatro costados! Da parte de meu pai Joaquim de Oliveira Figueiredo – meu querido Seu Fifi – herdei o Norte, o Porto, a Beira. Minha avó Augusta nasceu em Castelo de Paiva e foi registrada no Porto. Meu avô Henrique nasceu em Vouzela, berço dos Figueiredo, e foi registrado em Vizeu.

Da parte de minha mãe Eneida Moreira de Moura Palha de Figueiredo – minha amada Dona Dê – um lado caboclo é do vovô Augusto Cesar e outro, açoreano, de minha avó Ricardina, filha legítima da Ilha de São Miguel.

O fado me acompanha desde o berço ao som da vitrola com Amália Rodrigues (com quem tive o orgulho de um dia cantar) e Francisco José.

No Natal, perú? Nem pensar: BACALHAU!!! E não só: aletria, rabanadas, ovos moles, baba de moça (ou baba de camelo, como vim a descobrir depois) e vinho verde...GATÃO!!!

No dia-a-dia, sempre uma cebola inteira esperava por papai para ser temperada com sal e 'azeite português'... Depois o que tivesse para o almoço. E o caldo verde, com uma colher generosa de vinho tinto 'verde' e um pedaço de pão dentro para 'inchar' e engrossar. A batata que não podia ser muita para não tirar o gosto da couve e do chouriço. E os bolinhos de bacalhau (nunca batatalhau!!!) com MUUUUUUUUUUUUITO cheiro verde e coentro, tirados na colher, porque à mão saía o gosto. Fritos em quê??? Em 'azeite português'!!! Ninguém sabia da existência de outro azeite que não o português... Será que havia outro??? Rárárárárárárárárárárárárá...................

Pois foi com todas estas informações mais as descrições carregadas de saudade e emoção feitas por meu pai, que cheguei a Portugal pela primeira vez. Lá reencontrei minhas lembranças, meus cheiros, meus sabores e me reconheci em cada canto, em cada gesto, em cada movimento de carinho e generosidade. Hoje, vivo entre lá e cá e, juro, morro de saudades se passo muito tempo sem lá ir.

Vi Portugal sair do cinza e se ensolarar; vi os jovens voltando para um país que um dia tiveram que deixar por falta de oportunidades e condições; vejo hoje estes mesmos jovens orgulhosos de sua terra e esta terra orgulhosa de sua história. Hoje, faço parte deste lugar sem deixar de ser brasileira e amazônica. Hoje, sinto que meu coração é verde, amarelo, azul e vermelho. Como o coração de quase todos os portugueses que têm o Brasil no peito e os brasileiros no coração!

Este tempo entre lá e cá me faz conhecer muitos Portugais. O sério e vetusto; o sofisticado; o simples e caloroso; os cantinhos a serem descobertos; o moderno; o fashion e tantos mais. Por isso, começo esta minha coluna de viagem com uma série que vou chamar de PORTUGAL DO MEU CORAÇÃO. Isto não me impede de voltar ao tema Portugal sempre que meu coração pedir, mas vou, nestas primeiras páginas, falar de alguns cantinhos muito especiais com endereços e dicas para quem chegar lá, não ficar por fora ou repetir programas já vistos por pura falta de opção. Afinal é abril e abril em Portugal É TUDO DE BOM!!!

Minha primeira dica é uma tradição em Lisboa: os pastéis de Belém! Ai, que ricos e saborosos!!! Primeiro visitem a Torre de Belém, depois o Pavilhão dos Descobrimentos e depois...os pastéis. Vão bem cedinho para pegar aquela brisa do Tejo e se deixar ficar pelos relvados observando as crianças jogando bola com os pais, as mulheres conversando ou bordando um paninho para a casa, enfim...

Depois disso, vão até a Fábrica dos Verdadeiros Pastéis de Belém e deliciem-se com eles. Quentinhos, quentinhos... Um cálice de vinho do Porto Ruby e uma bica (um cafezinho). Huuuuummmmm.... Depois, já refeitos, mas ainda inebriados, visitem o Mosteiro dos Jerônimos. Levem máquina fotográfica e registrem TUDO: os túmulos de grandes personagens da história, descobridores, poetas... Vão à capela. Não deixem de ver nem fotografar nada! Tudo é lindo, conservado e hoje há um cuidado muito grande em contar a história (parabéns ao Ministério da Cultura e ao Departamento do Turismo portugueses).

Ao sair, vão ao Centro Cultural de Belém. Moderno e arrojado, muito polêmico ao ser construído e hoje respeitadíssimo por sua programação, sofisticação, salas de exposições e etc. Quando acabar a maratona cultural...COMER!!! Ali pertinho, quase em frente ao Museu dos Coches (com carruagens lindíssima que merecem ser vistas) temos o restaurante O Caseiro. Entrem, chamem o Sr. Santos, digam que são meus amigos e deixem que ele cuide de vocês!!!

Bom proveito, mas guardem-se. Daqui a 15 dias tem mais! Rárárárárárárárárárárárárárárárárárá!!!!!!!!!
Um beijo. Fafá.

Esta primeira coluna é presente de aniversário para minha mãe e grande parceira de viagens, dona Eneida, que completa mais uma risonha primavera neste domingo. Beijos, mamy.


4 comentários:

  1. Que maravilha!!!!!
    Mais uma faceta de nossa DIVA.
    Parabéns!!!!!!!!!!!!!
    Estou torcendo para que está coluna tenha muito sucesso.

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  2. Primeiramente quero dar os parabéns a dona Eneida por mais um ano de vida, e por ter nos presenteado com essa filha amada e maravilhosa que é Fafá. Sobre a coluna de Fafá, achei ótima todas as dicas que ela deu. Se um dia eu for a Portugal não só falarei que sou sua amiga , como também levarei uma foto com ela pra comprovar.Fafá é uma pessoa com vários talentos, além de ser cantora, tudo que ela faz sai bem feito, tenho certeza que sua coluna vai bombar.Parabéns Fafá por mais essa empreitada em sua vida.Beijos e abraços dessa sua fã (que não migrou)apenas se dividiu.
    Nurimar -SP

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  3. Parabéns !

    Li, gostei e indiquei para outros amigos lerem a nova coluna da Fafá.
    Fafá mais uma vez nos surpreende. Que ela é coesa, perspicaz em suas opiniões é sábio por todos nós e agora compartilhado em mídia para outros leitores. Valeu Fafá.

    Beijão.
    Anailton Alencar.

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  4. Gostei de saber que temos mais um veículo de comunicação, e através do mesmo, gostaria de saber quais as primeiras capitais que Fafá estará lançando o fado, estou aguardando no Piauí. Sucesso hoje e sempre.

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