domingo, 19 de abril de 2009

Coluna - 19.04.2009

O pato inesquecível!!!

Minha filha Mariana é minha grande parceira de viagem desde que era criança. A primeira viagem que fizemos foi quando ela ia completar 10 anos. Eu estava em Lisboa e ela foi se encontrar comigo. Entrou sozinha num avião e foi de São Paulo para Lisboa na companhia dos comissários de bordo. Imaginem como ela chegou lá? Se achando, é claro! (risos).

Fomos a Paris, Veneza, Milão, Lago de Como e Pontresina, que é a terra dos Smurfs. Fizemos muito esqui de fundo; despenquei cheia de malas, de cara no chão da estação ferroviária; quase a perdi numa estação de esqui e por aí foi... Mas, mais do que todos estes incidentes, ficou na memória este tempo juntas. Só nós duas às gargalhadas pelo mundo! E foram muitas as viagens que fizemos...

Tem uma hora em que os filhos crescem e programas como este ficam perdidos por um tempo, e assim foi conosco. Mas no Natal passado fizemos uma viagem incrível! Mariana é super organizada e não gosta de surpresas. Eu adoro viajar sem nada marcado... Foi um exercício de amor, compreensão mútua, carinho e muita gargalhada!

Começamos nossa viagem fazendo um roteiro que eu conhecia bem e ela não. Neste roteiro juntei lugares por onde já tinha passado, mas que não havia tido tempo de conhecer com tranqüilidade. Mariana olhou na internet e nos livros de viagem outros lugares de interesse que eu nem imaginava, e assim traçamos 10 dias maravilhosos entre Normandia, Bretanha e Vale do Loire.

Chegamos a Paris, alugamos um carro e fomos direto para Rouen (Normandia). E por que Rouen? Porque lá tem o pato mais famoso de toda a França!

O restaurante chama-se La Couronne e fica no número 31 da Praça do Velho Mercado (Place Du Vieux Marché). É o restaurante mais velho da França (desde 1345) e o pato é o Canard à La Rouennaise a Presse, um pato inteiro prensado e servido de várias formas, para duas pessoas. Inesquecível!

A cidade é linda e foi onde Joanna D’ Arc foi queimada. Hoje há uma belíssima igreja e a Catedral é um sonho! Andar pelas ruas de Rouen é estar em outro tempo! Fizemos lá a nossa base na Normandia e, assim, podíamos ir à outras cidades sem a preocupação de arrumar e desarrumar malas todos os dias.

No dia seguinte fomos almoçar em Honfleur. Atravessamos a Ponte da Normandia e chegamos a esta que considero uma jóia à beira-mar desta região da França. Tem um porto pequeno, galerias de arte, guloseimas vendidas pelas ruas e um astral único! Almoçamos e seguimos para o Porto do Desembarque (Port Du Desembarquement). Foi lá que foi construído, durante a madrugada, um porto que permitiu o desembarque das Forças Aliadas para combater Hitler e seus horrores. É emocionante o museu! Vale a pena conhecer.

Para o almoço de Natal escolhemos o Monte Saint Michel e seu restaurante Mére Poullard com seu mágico omelete de textura inacreditável e seu carneiro pré sallé. É o seguinte: os carneirinhos e ovelhas pastam na maré baixa e comem as ervas salgadas pela água, isto traz para a carne um sabor muito especial que só é encontrada lá. Com uma boa garrafa de Pomerol... Ai,meu Deus! E foi assim nosso almoço de Natal: champagne, salada de queijo de cabra quente, omelete e o pré sallé com um belo vinho tinto! De sobremesa: Tarte Tatin, uma maravilhosa torta de maçã... Que presente Papai Noel nos deu!

De lá fomos dormir em Saint-Malot, cidade entre muralhas na Bretanha. Linda, linda! A estrada que beira o mar que nos conduz da Normandia à Bretanha tem que ser feita devagar e, se possível, faça um piquenique na praia com queijo de cabra, foie gras, uma boa baguete e uma garrafa de vinho. Saint Malo é um porto muito importante aonde você encontra roupas lindas
para usar à beira-mar. Tudo em azul e branco, a cara de julho em Salinas ou Mosqueiro... Humm

E finalmente chegamos ao Vale do Loire! A temperatura estava por volta dos 4 graus! Frio de rachar! E então? Mais vinho! Nos perdemos numa cidadezinha que não saberei o nome, comemos o melhor escargot da viagem e seguimos para o primeiro Chateaux em Anjou, O Hotel Anne D’anjou , em Saumur. Ao chegar, fomos direto ao restaurante, afinal, só tínhamos comido uma porção de escargot! Um jantar dos Deuses (quando viajo pela França, a crença de que não há bons restaurantes em hotéis cai por terra!). Na manhã seguinte visitamos o Castelo e seguimos viagem para o Chateuax Les Muids, onde Dormimos. Outro deslumbramento! No meio do caminho paramos em Fontevraud L’Abbaye e visitamos sua famosa abadia, além de comprarmos sabonetes de aromas incríveis!

O dia seguinte foi reservado para os Castelo do Loire!! O primeiro deles, o de Chambord, cuja arquitetura é de Leonardo Da Vinci. Assistir logo na entrada ao vídeo de sua construção. As novas alas que foram sendo agregadas ao projeto original é uma aula de arquitetura! De lá seguimos para outros castelos lindíssimos como Chaumont, Chinon, Chenonceau, Amboise, Cheverny...

O sol começou a se pôr e tomamos a estrada em direção a Versailles, nossa última parada antes de embarcarmos para Portugal onde, mais uma vez, passamos o Reveillon. Ou seja: voltamos pra casa!

Até a próxima!

Fonte:

domingo, 5 de abril de 2009

Coluna - 05.04.2009

A gente sai da terra, mas a terra nunca sai da gente!
Desde sempre ouço esta frase e hoje, depois de não estar em lugar nenhum por mais de 15 dias há 35 anos, sinto-me capaz de fazer uma pequena correção (ai, que pretensão!!!)

Saí de casa aos 17 anos, digo, da casa de meus pais, para ganhar a vida, ter uma profissão.

Nunca pensei no casamento como 'solução' ou meta de vida. Desde criança sonhava ter uma profissão que me desse independência financeira e alguma liberdade. Eu queria conhecer o mundo, conhecer pessoas e meu sonho era ser psicóloga.

Nunca imaginei que minha terapia seria a busca, através da música, do entendimento da minha alma e, consequentemente, da identificação destes sentimentos compartilhados com milhares de pessoas pelo mundo que buscam na música 'exorcizar' seus demônios, entender suas paixões. Compreender e demonstrar suas emoções CANTANDO-AS!!!

Nunca pensei em chegar tão longe e, ao chegar a cada lugar, reconhecer minha casa. Hoje posso dizer que a casa, a terra da gente não nos abandona porque somos o resultado de nossas lembranças, nossos cheiros e sabores... E por falar nisto, há terra mais saborosa e cheirosa do que a nossa? O NOSSO PARÁ?

Então vamos lá, afinal isto é uma coluna de viagens e eu comecei por 'viajar mesmo'! Rárárárárárárárárárárárá......................

Há 23 anos trabalho entre Portugal e Brasil. A primeira viagem foi precedida de muita expectativa, muita ansiedade, afinal, minha família é portuguesa de quatro costados! Da parte de meu pai Joaquim de Oliveira Figueiredo – meu querido Seu Fifi – herdei o Norte, o Porto, a Beira. Minha avó Augusta nasceu em Castelo de Paiva e foi registrada no Porto. Meu avô Henrique nasceu em Vouzela, berço dos Figueiredo, e foi registrado em Vizeu.

Da parte de minha mãe Eneida Moreira de Moura Palha de Figueiredo – minha amada Dona Dê – um lado caboclo é do vovô Augusto Cesar e outro, açoreano, de minha avó Ricardina, filha legítima da Ilha de São Miguel.

O fado me acompanha desde o berço ao som da vitrola com Amália Rodrigues (com quem tive o orgulho de um dia cantar) e Francisco José.

No Natal, perú? Nem pensar: BACALHAU!!! E não só: aletria, rabanadas, ovos moles, baba de moça (ou baba de camelo, como vim a descobrir depois) e vinho verde...GATÃO!!!

No dia-a-dia, sempre uma cebola inteira esperava por papai para ser temperada com sal e 'azeite português'... Depois o que tivesse para o almoço. E o caldo verde, com uma colher generosa de vinho tinto 'verde' e um pedaço de pão dentro para 'inchar' e engrossar. A batata que não podia ser muita para não tirar o gosto da couve e do chouriço. E os bolinhos de bacalhau (nunca batatalhau!!!) com MUUUUUUUUUUUUITO cheiro verde e coentro, tirados na colher, porque à mão saía o gosto. Fritos em quê??? Em 'azeite português'!!! Ninguém sabia da existência de outro azeite que não o português... Será que havia outro??? Rárárárárárárárárárárárárá...................

Pois foi com todas estas informações mais as descrições carregadas de saudade e emoção feitas por meu pai, que cheguei a Portugal pela primeira vez. Lá reencontrei minhas lembranças, meus cheiros, meus sabores e me reconheci em cada canto, em cada gesto, em cada movimento de carinho e generosidade. Hoje, vivo entre lá e cá e, juro, morro de saudades se passo muito tempo sem lá ir.

Vi Portugal sair do cinza e se ensolarar; vi os jovens voltando para um país que um dia tiveram que deixar por falta de oportunidades e condições; vejo hoje estes mesmos jovens orgulhosos de sua terra e esta terra orgulhosa de sua história. Hoje, faço parte deste lugar sem deixar de ser brasileira e amazônica. Hoje, sinto que meu coração é verde, amarelo, azul e vermelho. Como o coração de quase todos os portugueses que têm o Brasil no peito e os brasileiros no coração!

Este tempo entre lá e cá me faz conhecer muitos Portugais. O sério e vetusto; o sofisticado; o simples e caloroso; os cantinhos a serem descobertos; o moderno; o fashion e tantos mais. Por isso, começo esta minha coluna de viagem com uma série que vou chamar de PORTUGAL DO MEU CORAÇÃO. Isto não me impede de voltar ao tema Portugal sempre que meu coração pedir, mas vou, nestas primeiras páginas, falar de alguns cantinhos muito especiais com endereços e dicas para quem chegar lá, não ficar por fora ou repetir programas já vistos por pura falta de opção. Afinal é abril e abril em Portugal É TUDO DE BOM!!!

Minha primeira dica é uma tradição em Lisboa: os pastéis de Belém! Ai, que ricos e saborosos!!! Primeiro visitem a Torre de Belém, depois o Pavilhão dos Descobrimentos e depois...os pastéis. Vão bem cedinho para pegar aquela brisa do Tejo e se deixar ficar pelos relvados observando as crianças jogando bola com os pais, as mulheres conversando ou bordando um paninho para a casa, enfim...

Depois disso, vão até a Fábrica dos Verdadeiros Pastéis de Belém e deliciem-se com eles. Quentinhos, quentinhos... Um cálice de vinho do Porto Ruby e uma bica (um cafezinho). Huuuuummmmm.... Depois, já refeitos, mas ainda inebriados, visitem o Mosteiro dos Jerônimos. Levem máquina fotográfica e registrem TUDO: os túmulos de grandes personagens da história, descobridores, poetas... Vão à capela. Não deixem de ver nem fotografar nada! Tudo é lindo, conservado e hoje há um cuidado muito grande em contar a história (parabéns ao Ministério da Cultura e ao Departamento do Turismo portugueses).

Ao sair, vão ao Centro Cultural de Belém. Moderno e arrojado, muito polêmico ao ser construído e hoje respeitadíssimo por sua programação, sofisticação, salas de exposições e etc. Quando acabar a maratona cultural...COMER!!! Ali pertinho, quase em frente ao Museu dos Coches (com carruagens lindíssima que merecem ser vistas) temos o restaurante O Caseiro. Entrem, chamem o Sr. Santos, digam que são meus amigos e deixem que ele cuide de vocês!!!

Bom proveito, mas guardem-se. Daqui a 15 dias tem mais! Rárárárárárárárárárárárárárárárárárá!!!!!!!!!
Um beijo. Fafá.

Esta primeira coluna é presente de aniversário para minha mãe e grande parceira de viagens, dona Eneida, que completa mais uma risonha primavera neste domingo. Beijos, mamy.