terça-feira, 30 de junho de 2009

Coluna - 28.06.2009

Pará é Paris


Quando adolescente, morando no Rio de Janeiro, sempre que falava do Pará, de Salinas eu dava um jeito de colocar um 'pois é, no NOSSO verão costumamos ir pra Mosqueiro, uma ilha maravilhosa com um mar de água doce, com ondas e marés, ou vamos para Salinas, uma praia interminavel onde a maré, se não tomar cuidado, leva até um carro quando enche!'.

Os cariocas queriam saber destas águas doces, desta praia interminável, destas marés amazônicas e eu explicava e me deliciava, como me delicio até hoje, e sempre perguntavam: mas porque você fala no NOSSO verão?... Aí eu crescia: AH, MEU AMOR, SABE COMO É QUE É? PARÁ E PARIS... NOSSO VERÃO É EM JULHO...


A cara deles caía e ainda hoje cai quando faço esta brincadeira!

HAHAHAHAAHAHAHA!

Então este ano resolvi começar meu verão pela França, conforme escrevi na coluna mais recente. Vim de Paris direto para Belém para fazer um trabalho muito prazeroso mas muito cansativo também, que é uma campanha de comerciais de TV. Para carregar baterias, fui para França passar uma semana.

Quando resolvi escrever sobre a França, pensei: SOBRE QUAL FRANÇA VOU ESCREVER??? Para mim a França é tão livre e particular que há muito o que falar. Tive uma ideia: vou falar sobre o eu gosto de fazer quando opto por viajar para a França. E aí ...vamos lá!!!

Escolho Paris para ser anônima, para ser mais um, para estar na rua à vontade e poder andar de Metrô ou ir a pé. Escolho a França para namorar, estar só ou com amigos. Escolho a França para sentir-me em liberdade, igualdade e muuuuuuuuuuuita fraternidade.

Escolho a França para poder, ao chegar em Paris, ir ao Le Bofinger comer um chucrute. Ao Chez André tomar uma sopa de peixe ou comer um fois gras, sentada do lado de fora, e achar que estou na praia. Sempre acompanhada de um belo vinho, de qualquer das suas regiões...

Vou pra Paris para andar de metrô, passear de Bateaux Mouche, fazer pela milésima vez aquele passeio de ônibus pela cidade (e SEMPRE choro!!!)

Adooooooooooooooro fazer um pic-nic em qualquer parque da cidade sem a preocupação de ser brega ou sei lá...

Estar em Paris é caminhar sem rumo, mas com endereços no bolso.

Se eu resolver ir para o lado do Marais, vou ao Museu Picasso, dou um pulo na Place des Vosges, leio um livro ou fico olhando as pessoas sentadas na grama tomando sol, estudando, namorando e atravesso para comer Steack Tartar no Ma Bourgogne, com um bom vinho e, de sobremesa, uma Tarte Tatin. Saio de lá fumando um charuto e vou caminhando até o Centre George Pompidou, dou uma olhada na exposição em cartaz e sigo meu rumo. Sempre a pé ou de metrô, quando está chovendo.

Se vou pras bandas da Rive Gauche, opto por descer no Musée D´Orsay. Entro, me encanto e saio caminhando pelas ruas pequenas e tranquilas cheias de galeriazinhas, antiquários, lojas de coisinhas improváveis, miniaturas e vou comer no Procópio ou em qualquer bistrot que me pareça simpático e bem françês. Sempre vou a igreja de Saint Germain e, com sorte ainda pego um concerto de música clássica ou de jazz. Saio e tomo um café no Deux Magos e fico ali, deixando o tempo passar. Sem pressa... Olho as vitrines, me dou presentes e vou andando.

Se acordo inspirada, vejo em qual estação pego um trem para Giverny para visitar os Jardins de Monet ou vou até Lyon, almoçar no Paul Bocuse.

UHLALÁ !!!

A França de encanta, Paris me encanta, as pequenas cidades me encantam! E sabem porque? Por que toda a história está lá! O orgulho de sua história, seus monumentos, das primeiras construções...TUDO PRESERVADO! Cuidado pelo Estado Francês que proporciona a seus cidadãos – preservando seus casarios e monumentos – o conhecimento e o contato físico com sua história!

Então, cheia de lembranças dos nossos palacetes, casarios portugueses, nossa orla recuperada e das casas cheias de flores da minha infância, chego a Belém... E é com muita tristeza que vejo o que deixaram acontecer com nossa cidade! Onde estão as casa inglesas de ferro (as plantations)? Havia várias. Hoje, salvo erro, há uma no Guamá. O que fizeram com as que desmontaram? Como vou explicar pra minha filha 'o que é isso?' A nossa Cidade Velha quase toda descaracterizada por reformas monstruosas, sem qualquer controle por parte do Patrimônio Histórico ou da Prefeitura!

E a poluição visual? Como é que se pode deixar a imundície destas placas de acrílico violentarem nossas mangueiras? E os prédios de mais de 25 andares que estão fazendo um paredão e impedindo a brisa de chegar, o vento circular pela cidade? Não é possivel que NINGUÉM controle isto!!!

Não há um gabarito a ser cumprido pelas construtoras ? Ah, é muita coisa...

Não sei se era isto que esperavam que eu escrevesse, nem sei se isto é um material literário, mas sincero é!!!

Neste ano em que apertamos ainda mais os laços com a França, vá passear por lá e descubra que tem Paris para todos olhos, desejos, paladares e (isto é bom saber) BOLSOS! E, por favor, observem a beleza dos jardins públicos e seus canteiros (há sempre alguns funcionários da prefeitura parisiense trocando as mudas). As janelas sempre com uma floreira cheias de flores coloridas em prédios simples, em prédios chiques, como nossas janelas e nossos jardins eram, há algum tempo.... Se o poder público aqui não faz, que sejamos nós a florir esta grande e maravilhosa Belém. Clima e variedades de plantas e flores não nos faltam!!!

A BIENTOT !!!

Bjs,

Fafá de Belém

Fonte:
http://www.orm.com.br/projetos/oliberal/interna/default.asp?modulo=439&codigo=421793

domingo, 7 de junho de 2009

Coluna - 07.06.2009

Nasci em Belém do Pará



Por causa da borracha fomos a primeira grande capital cultural do Brasil.Os grandes investidores estrangeiros vinham em busca da borracha e, com isso, o dinheiro do mundo circulava forte por ali.

Os navios que chegavam a Belém traziam as grandes companhias de ballet, música clássica, cantores líricos e teatro. A influência francesa estava (e está) impressa na cidade com seus palacetes, coretos em ferro fundido, etc...

Além da presença na arquitetura, segundo dizem, o PATO NO TUCUPI (nosso prato mais emblemático) é o encontro mais feliz da culinária francesa com a indígena!

As grandes famílias abastadas de Belém mandavam lavar suas roupas em Paris, Londres, Lisboa, onde a água não fosse barrenta e trouxesse para as cambraias e linhos o branco que nem o anil era capaz de trazer devido a nossa barrenta água ribeirinha.

Os navios traziam a cultura e o dinheiro e levavam a roupa suja para lavar! Literalmente!

Nas escolas éramos alfabetizados em português e o francês entrava em seguida para ser também matéria fundamental.

E assim tive meu primeiro contato com a França – menina, estudando o G. Mauger.

Os palacetes da cidade, as jóias das senhoras, as camisolas de seda com renda 'gripure' que minha tia me dava (e que eu usava como vestido...) tudo me fazia sonhar com Paris.

Haviam duas lojas de tecidos que marcaram época em Belém – Au Bon Marché e o Paris n’America. As escadarias em bronze, as prateleiras e os armários em cristal 'bisoté'... Um luxo!

O tempo foi passando, a vida me levando para muitos lugares, a música me embarcando por este Brasil a fora e Paris na minha alma...

Aquela altura ir à Europa não era como é ir hoje. Era caro e muito distante da realidade de quem não fosse no mínimo rico.

Eu começando carreira, ralando feito louca... Paris?... Não, é muito caro e longe...

Em 1978 fui convidada para fazer o show de lançamento de 3 marcas italianas em 3 cidades brasileiras e parte do pagamento era em passagenas aéreas. Paguei o cachet pleno para os músicos, peguei todos os 10 bilhetes para mim e fiz minha primeira viagem internacional. Eu e meu namorado - que tinha vivido na França.

E assim cheguei em Paris, com meu coração aos pulos.

De lá pra cá foram muitas as viagens para Paris e pelos interiores da França, e a cada viagem meu coração se comporta da mesma maneira. Que coisa!

Já fui a Paris, só; já fui começando um casamento; já fui chorar o final de um casamento; já fui casada e o casamento lá acabou (rs). Mas nada interfere neste caso de amor por esta cidade que proclama o amor com todos os sentidos: com seus aromas, sabores, ruas molhadas na madrugada, o pão, o vinho, o champagne, o chocolate, as vitrines...

TUDO EM PARIS É AMOR!

E nestes anos que falamos em parceria França/Brasil, nada melhor do que seguir um conselho de meu médico quando um dia cheguei arrasada pelo final de mais casamento.

Eu perguntei-lhe – Então, Mauro, tem remédio para isto?

E ele respondeu – TEM... PARIS 2 VEZES POR ANO

Eu tenho seguido seu conselho e tem dado certo.

PS - NESTE MOMENTO EM QUE ESTÃO LENDO ESTA COLUNA,ESTOU NA BEIRA DO RIO SENA BEBENDO UM CHAMPAGNE, COMEMORANDO TER SIDO UMA DAS 'DIVAS DO REI' !

BEIJOS e BOA VIAGEM!!! Fafá de Belém