domingo, 24 de maio de 2009

Coluna - 24.05.2009

Segredos de família


Estou gripada, o tempo está feio, meio chuvoso e frio neste começo de outono paulista. Não é a chuva da minha terra, não é o mormaço de Belém...

Minha natureza indígena me faz crer, quando fico resfriada, que vou morrer daqui a alguns minutos. Ou segundos, talvez...

Hoje é dia de escrever a coluna e nada me vem à cabeça. Como viajar assim? Meu Deus, por que fui inventar isto? Tudo me passa à cabeça até que o cheiro das panelas da Lisete (minha governanta, cozinheira, anjo da guarda ) vão tomando conta da casa e eu vou me animando!

Semana que vem estarei no Especial das Mulheres Cantando Roberto e tinha prometido fazer um regime ABSOLUTO até de UMA semana, mas fiquei resfriada, tô nervosa, está chovendo, o cheiro de uma carninha temperadinha me enlouquecendo...Sabe do que mais? Nasci gordinha e quem quiser que me compre deste jeito!!! RÁRÁRÁRÁRÁRÁRÁRÁRÁ...

O cheiro que vem da cozinha me faz viajar pela memória e lá quem está? Minha mãe!!! É pra ela esta coluna, mais uma e serão muitas... Mamãe sofreu um AVC e é muito ruim, muito ruim... Em dias como este, a vida nos passa em flashes, recordações. No meu caso, a saudade da família e da infância vem forte.

Então procurei algumas fotos que sei que vão fazer o domingo de mamãe mais feliz, e assim será a coluna de hoje: PRA MINHA MÃE, COM AMOR. Embora sem poder falar ainda, ela está consciente e continua uma grande observadora... Vê tudo... Então, muitas fotos hoje!!!

Mamãe ficou independente quando meu pai morreu. Ela é daquela geração que tomava conta da casa, dos filhos, da cozinheira e servia o marido e a casa com alegria.

Mamãe aprendeu a cozinhar para agradar papai, e aprendeu com a vovó, mãe dele, a fazer um Cozido à Portuguesa que benza Deus!!! E o bacalhau, a maniçoba, o arroz paulista, o sanduiche americano, o ponche!!!

Depois da morte do papai, a diabetes veio para incomodá-la e era nas viagens que ela se permitia tomar o vinho sem culpa, a cervejinha sem disfarçar e voltar a comer uma dobradinha à moda do Porto às 3:30 da manhã, com alegria!!!

Então, quando ela ligava e dizia: 'Fátima, estás por onde?', eu já sabia que ela queria dar uma banda por aí, viajar. Eu mandava o bilhete aéreo e ela ia, sozinha, toda toda pelos céus deste mundo a fora!!! MAMÃE ADORA SER PAPARICADA POR UMA COMISSÁRIA DE BORDO!!! (rs rs rs...).

Um dia chegamos ao Arquipélago dos Açores. Eu vivia falando que queria encontrar minha costela açoreana e a encontramos! O 'braço açoreano' da família de minha avó materna... Foi incrível!!! Foi como voltar no tempo. Como um reencontro. Embora nunca tenhamos nos visto. Estilo 'nunca te vi, sempre te amei'!!!

Fomos às Furnas comer um cozido que é preparado por oito horas nas bocas das furnas de um vulcão extinto, mas que ainda fumega; beber um tinto e depois, um licor de maracujá fantástico com abacaxi (doce, doce). À hora do lanche, comer um pão (que só tem lá) com boa manteiga, bolos, laranja, geléias, chás, um bom charuto açoreano, queijo do Pico. Huuuuuuuuuummmmmmmmmmm...

No dia seguinte fomos aos frutos do mar! Percebes, lapas, camarões do alto mar, lagostas, peixes de inacreditável sabor, cracas e sempre o tal pão açoreano. Um queijinho fresco que lá se come com muito piri-piri (um molho de pimenta salgada que é uma loucura!). E aí...vinho branco. Um Planalto, bem fresquinho. Muito bom.

Encontrar Izaura e a família foi como voltar no tempo, a minha casa ou à casa do tio Pedro e encontrar todos nós reunidos: irmãos, primos, tios, avós, amigos cantando e tocando, dançando um bom carimbó, em perfeita harmonia e amor absoluto.

Não havia cobranças nem julgamento. Havia amor incondicional. E sempre a boa mesa e o bom copo, é claro!!!

Bjs e até a próxima viagem!!!

Fafá de Belém,

do mundo, de todo lugar

Profissão: Viajante

domingo, 10 de maio de 2009

Coluna - 10.05.2009

A próxima viagem...


Meu pai adorava viajar de carro. Lembro-me de um Austin, um Candango (um jeep que a gente tirava a capota e era uma festa!) e finalmente a primeira Rural Willis! Sim, foram muitas, de todas as cores e, tenho certeza, que a mania que tenho de camionetes vem daí.

Papai passava em casa perguntando quem queria 'ir pra estrada' comprar carne 'verde', verduras, pato, buscar uns caranguejos e íamos nós! Os mais velhos quase nunca íam, mas eu e o Nelson, sempre! Voltávamos cheios de novidades e papai com aquele sorrisão, que só ele tinha. Sinto saudade.

Fomos morar em São Paulo e a Rural conosco. Fizemos a Belém-Brasilia em 1965! Mamãe, papai, eu, meus três irmãos e Francisca, nossa empregada. Uma aventura!!! No caminho vimos coisas inacreditáveis: cobras, jacaré na beira da estrada, revoadas de pássaros de cores indescritíveis, uma jabota que trouxemos conosco (mais um 'passageiro') e até tivemos o hotel invadido por uns índios, em Imperatriz, no Maranhão, loucos pelo retrovisor de nossa Rural!!! Rá, rá, rá rá, rá! Uma loucura!!!

Morando em Sampa, entre 1962 e 1965, todo fim de semana saíamos sem destino pelas estradas em busca de novos lugares. Na volta, seguíamos um ônibus escrito 'Destino - São Paulo' e era uma farra. Numa destas aventuras fomos em direção a Minas Gerais, às cidades históricas. Inesquecível.


Falo hoje de Minas porque acabo de receber a Medalha da Inconfidência, das mãos do governador Aécio Neves. Fiquei muito emocionada. Durante a transição democrática, estive ao lado de seu avô, Tancredo Neves, e sempre vivi o lado de cá dos palanques e dos discursos. Sempre estive do lado que realizava as homenagens. Desta vez foi, entretanto, foi emocionante estar do lado de lá, assistindo à cerimônia e ser uma das personalidades homenageadas no berço da Inconfidência!!!


Rever estas cidades é encontrar com a nossa história, nosso passado, nossa caminhada de independência e liberdade e nossa herança portuguesa.

As calçadas de Ouro Preto, as colinas de Mariana, a Estrada Real com sua bela São João del Rei , Tiradentes, Bichinho e tantas outras cidadezinhas menos conhecidas, mas tão encantadoras quanto... É uma aula de brasilidade. Este Brasil particular, discreto, cheio de tradições.

De conversas na mesa da cozinha (e que cozinha!!!). Este Brasil Brasil que não quer ser 'turístico', mas que adora ser 'viajado', descoberto com calma, sem relógio marcando hora de chegar ou sair. Um Brasil brejeiro, saboroso, dengoso, perfumado por um bom café ou um pão fresquinho, um bolo saindo do forno. Fubá, cachacinha e cigarro de palha. Um Brasil que não olha pra grife, e sim pra você e pro teu coração. E o afaga sem alardear...

Tenho em Minas grandes amigos. Quase poderia ter nascido lá. Esse jeito de falar baixinho e guardar segredo me encanta. Este nosso país me encanta! Somos tão particulares, tão plurais... Por que há momentos em que queremos ser como outros povos se somos a mistura saborosa e maravilhosa de todos eles e mais o nosso tempero tropical? Somos portugueses, italianos, japoneses, alemães, caribenhos, turcos, árabes, judeus, indios, cafuzos, caboclos! Somos o resultado feliz de todas as misturas de raças. Somos um país chamado BRASIL!

Nas próximas férias, pegue um carro (como fazia meu pai) ou entre num ônibus (como também fazia papai), ou num barco, num navio-gaiola, pegue uma mochila, junte a familia ou um grupo de amigos e DESCUBRAM ESTE MARAVILHOSO PAÍS ANTES QUE ELE SEJA INVENTADO E VENDIDO PRA NÓS EM PLÁSTICO NÃO- RECICLÁVEL!!!


BOA VIAGEM!


Fafá de Belém, do Brasil


e do Mundo.


Profissão: viajante